terça-feira, 23 de outubro de 2012

Estações ferroviárias fantasma em Pernambuco

  Prédios que outrora foram de grande importância para o progresso de nosso estado, serviram como ponto de embarque e desembarque de passageiros e cargas. De edificações mais robustas a simples paradas com prédios bem singulares ou pequenas coberturas; dessa forma foram construídas nossas estações ferroviárias, cada uma com suas particularidades, elaboradas de acordo com o tráfego cujo fossem responsáveis por atender, seja em pequenos povoados como Mimoso e Ipanema em Pesqueira, em cidades de tamanhos variados como Salgueiro, Catende, Timbaúba, ou em cidades de maior densidade demográfica como Recife, Jaboatão, Cabo. Uma coisa é certa, todos esses pontos de parada tiveram sua importância, porém hoje nem todos são valorizados como deveriam.
  Pernambuco já chegou a ter mais de 130 pontos ferroviários contando com postos telegráficos, paradas e as estações com prédio (houveram pontos de embarque apenas com uma simples cobertura, sem edificações mais complexas). De todas essas construções muitas se transformaram em verdadeiras construções fantasma.
  Veja a seguir algumas dessas "estações fantasma":

1 - Estação Felipe Camarão (Linha Centro - km 522)

A estação de Felipe Camarão, com destaque para a cobertura da plataforma. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2012).

De uma das extremidades da plataforma de Felipe Camarão podemos ver o prédio da estação e a grande vala das obras da Transnordestina. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2012).
  A estação de Felipe Camarão, construída e inaugurada entre o fim da década de 50 e o início da década de 60 do século passado. Desativada há mais de 15 anos, hoje sem seus trilhos, sem portas e janelas, com praticamente todo o teto já saqueado, é uma estação fantasma à beira do leito da Ferrovia Transnordestina, a qual passa onde ficavam a vila ferroviária de a casa do chefe da velha estação.

2 - Estação São Serafim (Linha Centro - km 479)
Estação Ferroviária de São Serafim, no município de Calumbi em pleno Sertão do Pajeú  (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2012).

Vista da plataforma da estação de São Serafim. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2012).

As ruínas da velha estação ao fundo. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2012).
  Mais uma estação fantasma registrada pelo Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco foi São Serafim, no município sertanejo de Calumbi. Fica localizada a cerca de 1 km da centro comercial da cidade, mas a sensação é de se estar a vários quilômetros da urbanização. Com exceção de umas poucas casas, algumas abandonadas e de alguns caprinos, o local é realmente muito esquisito. As casas da vila ferroviária e casa do chefe da estação foram demolidas, o local onde ficavam forma um longo pasto onde ainda existem algumas ruínas de tais construções. Os trilhos ainda existem, da mesma forma reservatórios subterrâneos para armazenar água que compunham o conjunto ferroviário. O edificação principal da estação não tem mais portas e janelas nem seu teto. Partes das paredes já vieram a baixo, porém a maior parte continua de pé resistindo a ação do tempo.

3 - Estação Iguaraci (Linha Centro -  km 381)

O centenário Luiz Gonzaga, pintado numa das extremidades laterais da estação de Iguaraci. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2010).

Trilhos e plataforma da estação de Iguaraci. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2010).


  A pintura do rosto de Luiz Gonzaga numa das laterais da estação de Iguaraci é apenas ilusória da real situação da estação. A mesma perdeu já praticamente todo seu telhado e suas portas e janelas, pelo que se observa tudo indica que foi por meio de furtos. A estação não fica tão distante da cidade, porém suas proximidades são um pouco desertas; tal condição e a situação de conservação do prédio caracterizam mais uma estação fantasma no Sertão do Pajeú.
  É realmente lamentável tais prédios estarem nessa condição de abandono, porém há muitos outros além dos citados acima nesta situação, o que é realmente triste pelo fato de essas edificações guardarem parte importante da nossa história e pelo muito que serviram aos pernambucanos em geral.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Túneis e viadutos: A ferrovia na Serra das Russas

  Você já imaginou andar de trem por entre vales, passando por túneis longos e escuros, compridos e altos viadutos, contemplando belas paisagens naturais em que a natureza se contrasta com os trilhos. Pois é, acredite você que não conhece muito da história das ferrovias em Pernambuco: nós temos uma ferrovia com todas essas características e muito mais; o caminho de ferro em questão é o trecho compreendido entre Pombos e Gravatá da antiga Estrada de Ferro Central de Pernambuco, posteriormente Linha Centro que ligava Recife a Salgueiro.
Um dos viadutos da Serra das Russas. (Imagem: Do blog " Jones em Trilhas" - http://jonesetrilhas.blogspot.com.br/2011/07/trilha-de-aventura-pelos-trilhos-e_9473.html)
  O referido trecho, com aproximados 25 km foi construído no fim do século XIX entre 1886 e 1894. A demora na execução da obra foi em face do grande obstáculo que ao chegar em Pombos a ferrovia teria de vencer para chegar a Gravatá: a Serra das Russas. Foram então necessários 8 anos para que se construíssem 21 túneis e 9 viadutos, estes em estrutura de ferro. Mais na frente alguns desses túneis deixaram de existir por comodidade técnica restando 14. Os viadutos, em face do desgaste, foram todos substituídos por estruturas de concreto entre os anos de 1945 e 1947, pela Great Western. Milhares de pessoas viajaram pelos túneis e viadutos da Serra das Russas com direção ao Agreste e ao Sertão, ou retornando para a Zona da Mata e a capital. 
Um dos 14 túneis da Serra das Russas. (Imagem: Do blog "Jones em trilhas" )
  O tempo passou e as ferrovias foram sendo deixadas de lado. Com a linha Recife - Salgueiro não foi diferente, logo os trens deixaram de passar pelo trecho da Serra. Em 2001, o Trem do Forró, último a utilizar a linha, mudou seu itinerário de Caruaru para o Cabo, com isso a linha para Salgueiro ficou totalmente abandonada desde então. O trecho em que os trilhos cortam a Serra permaneceu intacto, exceto alguns desabamentos de encostas sobre o leito da ferrovia em alguns trechos e o mato que cresceu muito em certas áreas.
  As referidas paisagens da Serra que poderiam estar sendo aproveitadas por um trem turístico que, sem dúvida, seria um dos melhores passeios desse tipo do Brasil, hoje são desbravadas por aventureiros, pesquisadores feroviários a exemplo do pessoal da APEFE (Associação Pernambucana de Ferreomodelismo e Preservação Ferroviária) que já fizeram inúmeras expedições para o trecho, praticantes de esportes radicais como o rapel (praticado nos viadutos, sendo o viaduto 4 o preferido por causa da maior altura com relação aos demais), ciclistas, apreciadores de uma boa caminhada, etc.
  Há o projeto de um trem regional interligando Recife a Caruaru aproveitando a velha Linha Centro, consequentemente os túneis e viadutos entre Pombos e Gravatá seriam utilizados novamente, o problema como sempre é sair do papel. É óbvio que se fosse colocado um trem para circular para o turismo apenas nesse trecho haveria um interesse por parte das outras cidades que ficam próximas e que são cortadas pela linha em ter seu turismo impulsionado pela reativação da linha dentro de seus limites. Caruaru, é um bom exemplo disso. Sendo a linha utilizada entre Pombos e Gravatá, a cidade de Bezerros iria querer entrar também nessa integração, logo em seguida Caruaru, Vitória, daí poderia o Trem do Forró retomar suas viagens para seu destino mais característico, não desvalorizando é claro o trecho Recife – Cabo, mas convenhamos, Caruaru é a capital do forró. É claro que são apenas hipóteses; a política rodoviarista de nosso país impede o mesmo de se desenvolver e preservar suas ferrovias. A consequência disso é o abandono absurdo de belos trechos de ferrovia como esse da Serra das Russas pelo qual muitos não tiveram a oportunidade de viajar e muitos dos que tiveram esse privilégio guardam apenas a lembrança nas fotos, na memória de vivência e nos velhos túneis e viadutos que um dia serviram para dar passagem ao progresso em nosso estado, da capital para o interior.

Viaduto 4, mais conhecido como Ponte Cascavel, é o mais alto e longo viaduto ferroviário da Serra das Russas. (Imagem: Papel de parede do Baixaki - Acervo: Vagner Santos). 
                                             




Sobre um dos viadutos da Serra das Russas. (Imagem: Do blog "Jones em trilhas")
                                     

Pessoal da Assoc. Pernambucana de Ferreomodelismo e Preservação  Ferroviária em uma de suas caminhadas pela Linha Centro na Serra das Russas, em frente a um dos 14 túneis. (Imagem: Do site "Amantes da Ferrovia" - Acervo: Rinaldo Henrique)

Plataforma da já demolida estação de Russinha, localizada apenas a  menos de 500 m após o 1º túnel sentido Pombos - Gravatá.