segunda-feira, 20 de junho de 2011

A chegada do trem a Caruaru

  Segundo uma notícia publicada no site do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Caruaru terá talvez seu VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) aproveitando a antiga malha da Linha Centro que cruza a cidade e corta 17 bairros seus. Baseando-se nessa boa notícia vamos relembrar o ano de 1895, no qual o trem chegou a Caruaru.
  O seguinte texto que conta essa história foi escrito por Humberto França e retirado do site da Fundação Joaquim Nabuco e conta o curioso dia da chegada do trem em Caruaru: Veja:


                                      Caruaru, o Trem e a Macaca


No governo do prefeito Manuel Rodrigues (Neco) Porto, em 1895, o trem chegou a Caruaru. A locomotiva foi batizada com o nome de “Barbosa Lima
”, que era, então, o governador de Pernambuco. A chegada da assombrosa máquina foi uma festa para os mais esclarecidos moradores da cidade. Bandas de músicas, foguetório, gente correndo para todos os lados, vaias de moleques, gritos de senhoras e moças, uma azáfama terrível de crianças. A poeira subindo, vendedores com tabuleiros de jinjibirras, doces, cachaça, bolos, algodão-doce, pirulitos e tudo o que se podia vender numa ocasião daquelas, quando a multidão enchia a grande praça da estação em frente ao prédio erguido por Papai Léléo, avô de Aurélio de Limeira Tejo, que, depois, passou a ser propriedade da empresaBoxwell.
Mas, o ano que antecedeu a chegada da fantástica máquina foi um período de intermináveis conversas, invenções, versões disparatadas, medos e ansiedades e de condenações de religiosos mais conservadores. O que seria aquilo? Uma coisa do demônio, diziam. Dona Vevéia, uma preta rezadeira que morava no bairro do Centenário, ela mesma com mais de setenta anos de idade, nos idos de 1960, relatou ao articulista a sua versão dos fatos. A anciã estivera presente na estação ferroviária naquele dia histórico para Caruaru. Segundo dona Vevéia, ao surgirem as primeiras informações sobre o trem, um rebuliço tomou a cidade. Os matutos vinham sendo advertidos a respeito do “perigo”, que aquelas máquinas, os trens, representavam. Comentava-se que o célebre missionário, padre Ibiapina, conhecido pelo nome de “padre Piapina”, havia pregado em missões... que um bicho preto, enorme, viria correndo pelos campos, dando gritos terríveis e lançando fogo pelas ventas, para anunciar o fim do mundo. E, portanto, a população humilde ficou apavorada, temendo que o tal “bicho” iria devorar os pecadores e instalar o “Dia do Juízo final” em Caruaru.
As beatas iniciaram novenas intermináveis. Fazia-se jejum. Algumas mulheres esfolavam os joelhos, pagando promessas, ou limavam os dedos de tanto rezarem com seus rosários. Santinha Felissíssima, a mais famosa dentre todas, amarrou-se a um crucifixo em frente à igreja catedral. Outra religiosa organizou pregações no Monte do Bom Jesus. As procissões noturnas começavam às três horas da manhã, com toques de matracas e sinos.
No dia fatídico em que o trem, afinal, chegaria a Caruaru, muita gente dos arredores da cidade,  estava em pânico. Dona Vevéia, quando ainda criança, seguiu com a madrinha para um alto, de onde se poderia ver o tremendo “bicho”. Ao ouvir os primeiros apitos do trem, as beatas que também ali se encontravam, correram em disparada para a igreja do distrito. Dona Vevéia, ao avistar aquela máquina enorme, largando fogo e fumaça e fazendo um barulho dos infernos, ficou cega e, tateando, correu em direção à sua casa, aos gritos e em prantos. Em seguida, desmaiou.  O sacristão Sertossanto Limeira tocava o sino sem parar e o seu ajudante lançava água benta naqueles que se refugiaram na capelinha, com os braços erguidos, implorando salvação e confessando, aos gritos, todos os pecados cometidos. Muita gente, da rua, pulava pelas janelas e caía sobre os que estavam no templo. Sacrementina Salvação derrubou o castiçal-mor, e pensaram que a luz das velas seria um raio fulminante enviado pelo Criador. A confusão foi geral e uma macaca de circo foi morta a pauladas, pensando-se que se tratava de um dos demônios fugidos do trem.           
Passada a agitação inicial, e o trem se distanciando, tudo se acalmou. Santino Santarrita, parente distante de Álvaro Lins, tentou convencer os presentes traumatizados, afirmando que a locomotiva não era demônio nenhum. Mas, apenas uma máquina inventada no estrangeiro. As mulheres ainda tremiam. Outras choravam baixinho, com seus vestidos rasgados, feridas. No entanto, a custo, a tranqüilidade se restabeleceu. A menina Vevéia tinha aspirado sais e tomado um gole de Água das Carmelitas. Recobrou os sentidos. Ouvia-se, bem longe, o som dos apitos. O sol escaldava. O vento cessara. E veio um silêncio quando o trem chegou à Estação Ferroviária de Caruaru. A Modernidade começava.
A estação de Caruaru em 2009. Ainda traz na sua fachada a sigla da Rede Ferroviária do Nordeste - RFN. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2009).

O pátio da estação Caruaru. O último trem que passou por aqui foi o do Forró, em 2001. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2009).

A estação de outro ângulo, com o armazém em primeiro plano. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2009).
A mesma estação não recebe trens desde 2001 e o último que passou por aqui foi o Trem do Forró que teve de mudar sua rota por problemas de falta de conservação nesta linha. Agora, com essa possível chegada do VLT, pelo ao menos o trecho da linha que passa por Caruaru estará conservado aumentando até a esperança de um trem turístico na Linha Centro e até o retorno do Trem do Forró.

3 comentários:

  1. Sou morador de caruaru e pra mim isso é uma vergonha para nossos governantes uma história tão linda como essa o prédio da estação ainda está em boas condições para receber pelo menos o trem do forró em época junina.

    ResponderExcluir
  2. Sou arquiteta e estou fazendo mestrado em desenvolvimento urbano pela UFPE, estou pesquisando sobre esse conjunto ferroviário. Gostaria de saber se você tem mais imagens do conjunto e se poderia cedê-las. Grata

    ResponderExcluir